A gente não quer só comida

 altPor Reginaldo Dias
Na semana passada, o DCE da UEM realizou uma jornada de mobilização e reivindicações, tendo como centro da pauta questões do restaurante universitário. Inaugurado em 1979, o RU sempre motivou reivindicações.

Mobilizações iniciadas a partir de seus temas costumam ser articuladas com objetivos mais amplos.

A propósito dos 30 anos do DCE, resgato aquela que talvez tenha sido a maior mobilização estudantil da história de Maringá, que se iniciou no RU e culminou na ocupação da reitoria da UEM, reivindicando congelamento dos aumentos e a gratuidade do ensino. Foi um fato de grande repercussão na época, que mereceu ampla e cuidadosa cobertura de O Diário, realizada pelo jornalista Roberto de Freitas. Esse movimento constitui o coração de meu livro “Uma universidade de ponta-cabeça”.

A ocupação da reitoria foi deflagrada no dia l4 de agosto de l984, há exatos 27 anos. No dia anterior, os estudantes haviam ocupado o RU e, depois do almoço, transferiram sua concentração para as proximidades do prédio da reitoria, a fim de negociar com a administração. O dia terminou com impasse, visto que as negociações não evoluíram. No final da manhã de 14 de agosto, a assembléia reuniu-se, defronte do RU, para apreciar os encaminhamentos, tomando a decisão, por ampla maioria, de que o próximo passo deveria ser a ocupação do prédio da reitoria.

Seria possível discorrer longamente sobre os contornos desse complexo processo. Nos limites aqui disponíveis, ficam algumas indicações. Desencadeado contra os aumentos do RU e das mensalidades, o movimento passou a alimentar a expectativa de conquistar a gratuidade do ensino. Com antecedência, a UPE (União Paranaense dos Estudantes) havia
programado o lançamento de campanha estadual em favor da “gratuidade já”, em evento a ser realizado no final daquela semana, em 18 de agosto, na cidade de Paranaguá. A adesão de outras universidades poderia dar grande impulso ao processo desencadeado em Maringá.

Não obstante essas expectativas, o movimento caminhou para a negociação antes mesmo da deflagração da campanha da UPE. Em l9 de agosto, o prefeito da cidade, convidado a intermediar negociações, tomou a iniciativa de oferecer um subsídio para garantir o congelamento dos preços do RU até o final do semestre. Como se tratava de conquista inédita e a mobilização dava sinais de cansaço, a assembléia estudantil aceitou – com entusiasmo – a proposta e o movimento foi suspenso, com a disposição de, se necessário, desencadear novas ações pela gratuidade. Entendeu-se que a campanha estadual, em razão da envergadura da reivindicação, tinha um cronograma de lutas a médio e a longo prazo.

Durante a semana da ocupação, os estudantes nutriram o sentimento de que haviam constituído uma espécie de comunidade democrática dentro da universidade. Naquela semana, os locais da hierarquia universitária se tornaram espaço da democracia estudantil, exercida pela participação direta e igualitária na tomada de decisões.

No final da mobilização, um panfleto falava que os estudantes teriam provado que era possível “construir uma comunidade verdadeiramente justa e democrática”. Em seu desfecho, a nota resumiu: “Não é mais um ‘sonho de moço’. Nós o construímos concretamente, mesmo que apenas por 6 dias, provamos que é possível esta comunidade”.


 

Procurar artigos publicados

Telefones

Sede Administrativa (44) 3224-1807
Sede Social Academia (44) 3246-6709

Endereço

R. Prof. Itamar Orlando Soares, 305
Jardim Universitário • Maringá - PR

Contato

aduem.secretaria@gmail.com