Setembro amarelo e a prevenção do suicídio

“O suicídio não é uma questão de coragem ou covardia como se costuma dizer, é uma questão de desespero, de não saber mais o que fazer [...]". (Lúcia Cecilia da Silva - Doutora em Psicologia - DPI/UEM, e voluntária na ONG Decida Viver).

O suicídio é uma das causas mais comuns de morte no mundo. A cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio. Estima-se que 90% dos casos poderiam ser evitados, se houvesse mais liberdade para dialogar sobre a ideação suicida (sentimento de querer vir se matar).

Profissionais da saúde defendem que a prevenção ao suicídio é algo muito importante e a sociedade deveria conversar sobre esse assunto. Porém, o que se observa é ainda um tabu. Por isso, o SETEMBRO AMARELO é tão importante. Desde 2014, é reconhecido como o mês de cuidado com a saúde mental e prevenção ao suicídio.

Em Maringá, a abertura do mês amarelo teve uma “Carreata a favor da vida”, com o tema: “Viva em constante transformação”. A programação foi organizada pela ONG Decida Viver, que realiza atividades de alertar à população acerca do apoio e de ajuda psicológica.   

A fundadora e presidente da ONG é a professora Regina de Paula. Ela explica que esse projeto surgiu em setembro de 2017, com a morte do filho. Após a dor do luto, a família decidiu fundar a organização como forma de ressignificação.

“Acolhemos nesses anos mais de 300 pessoas. Hoje temos cerca de cem voluntários se dedicando à Decida Viver. Estamos com uma equipe de quarenta psicólogos, duas psiquiatras e uma nutricionista. Somos todos voluntários nesse projeto trabalhando o acolhimento e a prevenção a favor da vida. Isso, a partir da potencialização das habilidades das pessoas, com cultura, esporte e lazer”.

A doutora Lúcia Cecilia da Silva, associada da Aduem, é voluntária da psicologia no projeto da ONG Decida Viver e relata que “o suicídio é o último ato de uma pessoa que vem trilhando uma jornada de sofrimentos vivenciados como insuportável, interminável e dos quais ela não consegue escapar”. De acordo a doutora, ocorre que a pessoa quer acabar com o sofrimento e não com a vida.

Afinal, o que é o suicídio? Como prevenir?

Por Lúcia Cecilia da Silva

O suicídio não é uma questão de coragem ou covardia como se costuma dizer, é uma questão de desespero, de não saber mais o que fazer, o que esperar, de se sentir sozinho e desamparado. Então, o ideal é que as pessoas não cheguem a sofrimentos insuportáveis, que elas possam ter recursos para lidar com as vicissitudes da vida, com relativa tranquilidade e segurança. E isso envolve aspectos não só de ordem íntima e pessoal, mas também aqueles de ordem externa e social. Quem está sofrendo precisa do apoio familiar, do apoio dos amigos, precisa do olhar acolhedor e amoroso, sem preconceitos.

Para isso é importante que se fale sobre o suicídio, para desmistificá-lo, para que as pessoas se aproximem desse problema e tenham um mínimo de compreensão sobre esse fenômeno. Neste sentido, campanhas como o Setembro Amarelo são importantes para a prevenção, pois trazem à baila um tema que ainda é tabu, promovem esclarecimentos à população em geral, divulgam onde se pode encontrar ajuda. Neste sentido, seria interessante que se falasse sobre o suicídio não só em setembro, mas o ano inteiro.

Mas a pessoa que sofre (e sua família) não precisa somente do apoio do seu entorno, precisa também de ajuda especializada, precisa cuidar de sua saúde mental de forma que possa cuidar de suas vulnerabilidades, para que possa trabalhar suas dificuldades e encontrar recursos para lidar com seu sofrimento, seja ele como for.

Assim, para a prevenção do suicídio é importante o acesso à rede pública de saúde e, neste caso, a rede de atenção psicossocial. Para as pessoas desenvolverem suas potencialidades, suas habilidades, sua criatividade, recursos estes que são extremamente importantes para que ela desenvolva as capacidades humanas e com elas engrandeça sua vida, elas precisam ter acesso à uma boa educação desde muito cedo. Eu sempre digo que uma frente importante de prevenção do suicídio é o fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e da educação pública.

As pessoas também precisam ter acesso ao trabalho, e que tenham boas condições de trabalho, que não sejam exploradas, assediadas, estigmatizadas, marginalizadas, pois tudo isso faz sofrer intensamente. Para se prevenir o suicídio, também é urgente a destruição da cultura racista, machista, misógina, homofóbica. Em suma, eu penso que para prevenir o suicídio precisamos cuidar do viver. E cuidar da vida não é só cuidar da “minha vida”, é cuidar da vida de todos, e isso se faz coletivamente, com políticas públicas robustas e não com necropolítica.


Professora de Psicologia, Lúcia Cecilia da Silva.

Doutora em Psicologia, atua na área de Fundamentos da Psicologia e Psicologia da Saúde, na graduação e Pós-Graduação em Psicologia da UEM. Pesquisa sobre a Morte e o Morrer, atualmente se dedicando mais ao Suicídio em todos os seus aspectos.

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