O poder nosso de cada dia
O assunto que quero tratar hoje é sobre algo que nos envolve cotidianamente nas nossas diversas relações: a luta, aberta ou velada ou travestida, pelo poder. E, ao escrever sobre tal tema, vou tomar como referência a premiada série Game of Thrones, ou, simplesmente GoT, terinada em 2019, mas que, na minha opinião, continua atual, inclusive agora com uma série derivada, A Casa do Dragão. Confesso que a escolha não é à toa, pois considero, mesmo com a polêmica sobre o último episódio, a melhor séria já produzida.

O que prende a atenção na história baseada nos livros escritos por George R. R. Martin, e o que a torna um dos melhores enredos que eu já assisti é o fato de ser uma história absolutamente não linear, sen qualquer maniqueísmo, características tão frequentes nos filmes hollywoodianos e novelas brasileiras, os quais têm invariavelmente a vitória do bem e a derrota do mal, ocasionando sentimentos de paz, de tranquilidade e, acima de tudp, de que a justiça foi feita; porém, a realidade é, realmente, mais imperfeita. É para a realidade de nossa vida que devemos nos voltar e, para isso, o ponto de partida de qualquer disputa pelo poder é que ela se encontra no terreno do imponderável, das contradições, das surpresas e, em síntese, do desconhecido.
O poder é disputado de diversas formas: na amizade, no amor, em cargos, em funções, por status, enfim, em suas formas humanas... O que quero dizer é que muitos amigos, namorados/cônjuges, colegas de trabalho lutam pela hegemonia de suas vontades, luta que na maioria das vezes camuflada é verdade, mas não deixa de ser uma luta. Apenas com exemplos comuns do que estou tentando falar temos o ciúme e a inveja; são sentimentos que denotam que um se sente proprietário do outro, o ciúme, e que um não tem o direito de ser melhor ou ter mais do que outro, a inveja. A luta pelo porder que se estabelece, nesses casos, não permite inocência e nem ingenuidade, até porque ela é travestida de respeito e de amor e, portanto, ela é encoberta.
Os personagens de GoT revelam exatamente isso: aqueles que são justos, virtuosos, peca pela inocência e ingenuidade de acreditar que a verdade deve, por si mesma, ser respeitada e cumprida por todos; e é exatamento o que não acontece. Aqueles que conseguem, na história, chegar e se manter no poder são aqueles que conhecem os meandros tortuosos e frágeis da alma humana, quase sempre corruptível e passível das paixões pelo status, pelo luxo, pela riqueza e, é claro, por ter hegemonia sobre pessoas, ou seja, ter parte, mesmo que pequena, no poder.
É claro que nem todas as relações ter por base uma luta, mas há delas que se estabelecem e se mantém com base numa dissmulada luta pela hegemonia das vontades e, geralmente, dizimam os mais fracos, que são os mais inocentes e ingênuos. Martin nos mostra que um pouco de astúcia e desconfiança sempre ajudam a se manter de pé, com dignidade. É sempre saudável ficar atento nas nossas relações, se elas são livres, respeitosas ou se são palco de lutas pelo poder.
Obs.: Este texto foi originalmente publicado em www.bisbilhoteiro.com.br, na coluna (im)pertinências.

Prof.º Dr.º Celio Juvenal Costa, filósofo e professor do DFE.
Instagram: @costajuvenalcelio