O acesso ao ensino remoto emergencial na UEM

Mais uma vez, a Curupira... “Como muitos de seus defensores chegaram a afirmar, as novas tecnologias vieram para ficar”. Reflexão com Pedro Jorge de Freitas. 

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Sobre o ERE – Ensino Remoto Emergencial –, recentemente aprovado pela UEM, há duas pequenas observações a fazer: a primeira, alguém já a fez com melhores argumentos do que eu, está no fato de que se é remoto não é ensino. Ensino, na verdade o binômio ensino-aprendizagem, é uma relação que vai muito além da oferta de alguns parcos conhecimentos e que, se presencialmente muitas vezes não logramos efetivá-la, ao tentar promove-la remotamente nos deparamos com uma impossibilidade.

A segunda objeção corresponde à denominação emergencial. Somente os muitos ingênuos não percebem que se trata de um projeto que faz uso da pandemia para se firmar, mas que não prevê, ao final desta, sua remoção de nosso cotidiano. Como muitos de seus defensores chegaram a afirmar, as novas tecnologias vieram para ficar. Mais uma vez, o fatalismo tecnológico é utilizado como recurso para justificar uma proposta nitidamente política.

O ponto de partida de tal argumentação está na ideia de que conquistas tecnológicas não podem ser desprezadas e que aqueles que as contestam já podem receber no plano moral a pecha de compromisso com o atraso, com a má vontade e a pouca disposição de se adaptar às novas formas do trabalho e, por extensão, à rejeição do próprio trabalho. Um recurso tecnológico específico é tratado como tecnologia em sua totalidade, esta última, um aspecto ineliminável da história humana, que, pensada de forma abstrata, estaria acima de todas as contradições sociais, esquecendo-se que em suas manifestações concretas das mazelas destas últimas jamais se liberta.

A adoção do ERE na UEM foi permeada em todos os sentidos por essa ideologia. Não só porque as discussões giraram apenas em torno do acesso ou não dos alunos aos meios necessários, com as patéticas campanhas de doação dos supostos meios, como também foram, aqui e ali, permeadas com a ideia de modernização inevitável, sem determinar claramente que forças sociais, que interesses de classes, modulam essa modernização.

A adoção de tais recursos, se as tomarmos, de fato, como modernização, não implica em algo que reverta em benefício do conjunto de seus usuários. Uma modernização pelo alto, que não corresponde a uma melhoria das condições de vida dos envolvidos no processo e que consiste, apenas, na importação de um novo dispositivo, o que não significa desenvolvimento tecnológico para o agrupamento social que o utiliza.

No caso dos professores, onde já é aplicado, o ensino remoto dá visibilidade às consequências indesejadas: maior jornada de trabalho, dificuldades na execução do trabalho previsto, adoecimento e, fundamentalmente, aprofundamento a uma escala gigantesca da alienação do trabalho do professor. Como em qualquer outro ramo do trabalho assalariado, portanto, alienado, a introdução de mecanismos que aumentam nossa produtividade do trabalho, o fazem, sempre, sob a égide dos interesses do capital e do esvaziamento da atividade laborativa. Por isso, mostram-se, sempre, não como realização de nossa humanidade, mas como forças que lhe são não apenas superiores, mas também hostis.

O ensino remoto nas universidades públicas, em muito pouco tempo, mostrará a que veio. De forma ainda mais precarizada do que acontece já nas universidades privadas, passaremos a conviver com salas virtuais lotadas, quebrando os limites físicos hoje presentes, turmas unificadas, distanciamento entre professor e aluno, redução a uma escala ínfima do controle do trabalho por parte de quem o executa, fim dos concursos, redução da universidade à suas atividades de ensino e extinção paulatina das atividades de extensão e pesquisa. Na outra ponta, formação de uma força de trabalho cada vez mais barata, menos qualificada, adequada na sua miséria à miséria de uma economia exportadora de bens primários, dependente tecnologicamente das economias centrais, condenada, portanto, ao atraso e ao subdesenvolvimento.

Ao contrário da roupagem progressista com que se apresenta, o mito do desenvolvimento tecnológico, nesta condição específica, como em outras tantas circunstâncias semelhantes, na verdade não passa da reafirmação do compromisso de nossas classes dominantes com o atraso histórico de nosso país.

*Dr. Pedro Jorge de Freitas do DCS/UEM.

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